segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Contexto

A partir do século XVIII, com a Revolução Industrial, na Europa e nos EUA, houve um intenso deslocamento da população rural para as cidades, atraídas pelas ofertas de emprego e pela crise no setor agrícola, porém as cidades não estavam preparadas para recebê-las. As pessoas que vieram do campo, nao tinham onde morar, pois as cidades não tinham planejamento para esse grande contigente de pessoas, acumulando se nos cortiços, sem conduções de higiêne, esgoto a céu aberto, lixo, abastecimento de água inadequado. Peter Hall cita em seu livro Cidades do Amanhã, como Mearns define os cortiços:
“Poucos dos que lêem estas páginas sequer concebem o que são estes pestilentos viveiros humanos, onde dezenas de milhares de pessoas se amontoam em meia a horrores que nos trazem à mente que ouvimos sobre a travessia do Atlântico por um navio negreiro. Para chegarmos até ela é preciso entrar por pátios que exalam gases fétidos, vindo das possas de esgoto e dejetos espalhados por toda parte e que amiúde escorrem sobre os nossos pés: pátios, muitos deles, onde o sol jamais penetra, alguns sequer visitados por um sopro de ar fresco, e que raramente conhecem as virtudes de uma gota d’água purificante. É preciso subir por escadas apodrecidas, que ameaçam ceder a cada degrau e, em alguns casos, já ruíram de todo, com buracos que poe em risco os membros e a vida do incauto. Acha-se o caminho às apalpadelas, ao longo de passagens escuras e imundas, fervilhantes de vermes. E então, forem rechaçados pelo fedor intolerável, poderão os senhores penetrar nos pardieiros onde esses milhares de seres, que pertencem, como nós, a raça pelo qual Cristo morreu, vivem amontoados como reses.” (mears, 1183, p 4)

Cidade de Londres na revolução industrial


Diante desses problemas que as cidades estavam enfrentando, surgiu o urbanismo moderno, para solucionar esse caos urbano, diversos urbanistas projetaram seus planos de cidades ideais, eram divididos em três correntes: humanista, naturalista e progressista. Françoise Choay definem pela principais características: o modelo culturista, que entre os fundadores estão Camille Sitte, Ebenezer Howard e Raymond Unwin, os princípios ideológicos desse modelo é a totalidade prevalecendo sobre as partes e o conceito cultural de cidade sobre a noção de material de cidade, seu ponto de partida não é o Homem isolado mas sim o agrupamento humano, limites precisos são determinados pelas cidades, como por exemplo a cidade-jardim de Howard que estipula o número de trinta mil habitantes, a cidade é limitada por um cinturão verde para impedir coascelencia com outras aglomerações vizinhas, as ruas são órgãos fundamentais, o espaço deve ser diverso por isso, recusam a simetria, seguem a topografia, incidência do sol, vento dominante e conforto ao indivíduo
“ Ele recorre à análise das cidades do passado ( da antiguidade ao século XV): é ali que, incansavelmente, estuda o traço das vias de circulação, a disposições e as medidas das praças em relação aos monumentos que as enfeitam.” (CHOAY, 1979, pag 27).
A corrente progressista, tem como principais urbanistas Tony Garnier, Owen, Fourier, Richardson, Cabet, Proudhon, o interesse dos urbanistas deixaram de ser estruturas econômicas e sociais, são obcecados pela modernidade, propõe uma cidade funcional e geométrica, “[...] ordena a disposição dos elementos cúbicos ou paralelepipedais segundo as linhas retas que se cortam em ângulos retos: o ortogonismo é a regra de ouro que determina as relações dos edifícios entre si e com as vias de circulação.” (CHOAY, 1979, pág 23)
negando qualquer referência as cidades do passado e deixam de lado o interesse pelas estruturas econômicas e sociais e passam a preocupar com as técnicas e estética, “ A estética é um imperativo tão importante quanto a eficácia para esses urbanistas-arquitetos a quem a tradição européia deu, em alto grau, uma formação de artistas. Mas conforme, a seu modernismo, rejeitam qualquer sentimentalismo com respeito ao legado estético do passado.” (CHOAY, 1979, pag 23), propõem uma cidade dividida em zonas específicas com funções distintas Habitat, Trabalho (industrial, liberal e agrícola), Cultura e Lazer, não se submetem obrigatoriamente a características dos locais, história, cultura, morfologia do território, negando a topografia, na condição de atender as funções e ser eficaz, preocupação com a higiene e a saúde.
E finalmente modelo naturalista, tem como principal adepto o arquiteto Frank Lloyd Wright, é uma proposta anti-industrialista, negando o progresso e a tecnologia, a arquitetura está subordinada à natureza. “ Os princípios ideologicos sobre os quais ele funda Broadacre são os de um fiel discípulo de Emerson. A grande cidade industrial é acusada de alienar o individuo no artifício. Só o contato com a natureza pode desenvolver o homem a si mesmo e permitir um harmonioso desenvolvimento da pessoa como totalidade. F. L. Wright descreve essa relação original e fundamental com a terra em termos que, para o leitor europeu, evocam as páginas onde Spengler restitui o início da cultura ocidental.” (CHOAY, 1979, pag 30)

Cidade-Jardim de Ebenezer Howard

Ebenezer Howard foi o criador das cidades-jardins, militante socialista, escreveu sua obra em 1989 : Tomorrow: A Peaceful Path to Social Reform ( Amanhã: um caminho pacífico para a reforma social), que foi editada em 1902 com o título: Garden Cities of Tomorrow (Cidades-jardins de amanhã). Em 1899, juntamente com amigos, cria a Garden City Association, e a partir de 1903 adquiriu seu primeiro terreno em Letchworth e contratou dois arquitetos Parker e Unuin para projetarem a cidade.
“ Ele aspirava nada menos que à abolição dos males da Revolução Industrial, à eliminação dos cortiços e doa apinhados bairros industriais. Tudo deveria ser conquistado sem suiscitar o antagonismo de qualquer grupo, nem mesmo dos proprietários. Esperava-se criar novas formas de riqueza publica por meio de uma completa inversão de valores, sem nem mesmo esperar que algum partido político solitário a tais princípios estivesse no poder.” (GIEDION, 1995, pág. 805)
Para Howard não havia apenas a vida no campo e na cidade, tinha uma terceira possibilidade, que era a união dos dois. Eram dois imãs principais: cidade x campo, cada um procurando atrair a população, de acordo com Choay, os dois imãs ofereciam para os moradores vantagens e desvantagens:
“ (...) o Imã-Cidade, comparado com o Imã-Campo, oferece a vantagem dos altos salário, das oportunidades de emprego e das previsões tentadoras de progresso; mas essas vantagens são amplamente compensadas pelos preços altos. A vida social que proporciona e seus locais de diversão são muito mais atraentes; as horas excessivas de trabalho durante o dia e a noite, as distancias que separam do trabalho, e o “isolamento da multidão” tendem a reduzir muito o valor dessas boas coisas. As ruas bem iluminadas constituem um grande atrativo, especialmente no inverno (...). Há no campo belas paisagens senhoriais, bosques perfumados, ar fresco, murmúrio das águas. Os aluguéis, calculados por acre, são certamente baixos, mas esses alugueis baixos são a conseqüência natural dos baixos salários, e não uma fonte de conforto substancial, ao passo que as longas horas e a falta de diversão fazem com que a luz do sol e o ar piro não consigam mais alegrar os corações, A única industria, que é a agricultura, sofrre freqüentemente com as chuvas excessivas, a que se acrescenta, nas épocas da sexa, também, a escassez de água, ate para beber.” CHOAY, 1979, pág 220).
Criando assim um terceiro imã, o Imã cidade-campo, tentando unir as vantagens de cada lado.Foi adquirido uma propriedade de 2400 hectares, mediante empréstimo, por um preço de 2500 franco o hectare, foi outorgada em nome de quatro homens, que fizeram um depósito a título de garantia, primeiro para os credores e depois para população da cidade-jardim, neste terreno então seria construída a cidade, no centro dessa área e com 1130 metros de raio e os alugueis são pagos a administração e o lucro vai para o Conselho Central para serem gastos em obras públicas.
“A essência do plano era que a comunidade controlasse a terra e que todos os lucros provenientes do aumento do seu valor pudessem reverter para a comunidade, a fim de desenvorajar qualquer tipo de especulação.” ( GIEDION, 2004, pág. 805)


Três Imãs: cidade, campo e cidade-campo

Howard estabelece uma população de 30000 pessoas na cidade e 2000 na área agrícola, quando uma cidade atingisse a sua capacidade de suporte, novas cidades deveriam ser formadas em torno de uma cidade central de 58.000 habitantes, formando um conjunto de cidades interligadas por meio de ferrovias e rodovias, os habitantes poderiam chegar na outra cidade em poucos minutos através de um transporte rápido, assim vão surgindo as cidades em volta da principal, o transporte feito pela estrada de ferro, com linha intermunicipal possui 32 quilômetros de extensão, a cidade vizinha mais afastada poderia ter apenas 16 quilômetros de distancia, que dariam 12 minutos. Tem também um sistema de estrada de ferro que Poe cada cidade do circulo exterior em comunicação com a central.



Sistema de cidades
A cidade era dividida em seis bulevares, com 36 metros de largura, dividindo a cidade em seis partes, no centro tem um espaço de dois hectares para o jardim, onde fica em volta os edifícios públicos, cada um em um terreno e espaçados, com a câmara, sala de concerto e leitura, teatro, biblioteca, museu, galeria de arte etc. O restante do espaço forma o Palácio de Cristal, formando um parque publico com 58 hectares, com pátio de recreação, em volta do Parque Central possui uma arcada de vidro que se abre para o Parque, o Palácio de Cristal serve como abrigo para dias chuvosos, venda de produtos, jardim de inverno e um conjunto de exposição permanente, ele é de fácil acesso, fazendo com que as pessoas percorram no máximo 550 metro até chegar nele.


Cidade Jardim



Seção da cidade-jardim

“ A cidade-jardim é a única proprietária do terreno e pode dar a um locatário, por exemplo um comerciante privado ou uma sociedade de panos ou artigo de fantasias, um certo espaço dentro da Grande Arcada (Palácio de Cristal), mediante um aluguel contributivo anual determinado (...) Enquanto você satisfizer o público, nenhuma parte do espaço reservado à recreação será alugada a ninguém que se dedique ao mesmo negócio que você. Devemos, entretanto, evitar o monopólio. Se o publico tiver queixas de seu serviço e quiser que a arma representada pela concorrência seja empregada contra você, alugaremos debaixo da Arcada, se isto for requerido por um certo numero de habitantes, o espaço necessário para o estabelecimento de algum comerciante desejoso de abrir um negócio concorrente.” (CHOAY, 1979, pág. 225)
A maioria das casas são construídas na forma de anéis concêntricos, com a frente para as avenidas ou ao longo dos bulevares e das vias que convergem para o centro. São 5500 terrenos, com 6,5 por 44 metros ou 6,5 por 33 metros, algumas com jardins comunitários e cozinhas cooperativas. As ruas são arborizadas, com uma avenida central, “ grande avenida”, com 125 metros de largura, formando um cinturão verde com mais de 5 quilômetros dividido em duas coroas a parte da cidade que estende para fora do Parque Central formando um parque adicional de 50 hectares, na avenida, são seis áreas coma uma com um hectare e meio, para escolas publicas, quadras de jogos, jardins, igrejas etc.
“ Os serviços seriam fornecidos pela municipialidade, ou pela iniciativa privada desde que comprovadamente mais eficiente. Outros seriam prestados pelas próprias pessoas, numa serie do que Howard chamou de experimentos promunicipais. Particularizando: as pessoas construiriam suas próprias casas com capital fornecido por sociedades construtoras, associações de ajuda mutua, cooperativas ou sindicatos.” ( HALL, 1195, pág. 111)
No anel exterior localizam as manufaturas, lojas, mercados, deposito de carvão, de madeira etc, ao redor da cidade possui uma estrada e terra circular que comunica com a grande linha de ferro, facilitando diretamente que as mercadorias que saem da loja para serem expedidos e vice-versa, gerando economia com esgoto de embalagens, transporte e reduzindo a perda por avarias e quebras e também diminuindo o tráfico pelas ruas, e por conseqüência diminui os gastos na manutenção dessas ruas. As máquinas nas industriais utilizam a energia elétrica para funcionarem e os resíduos da cidade são utilizados na região agrícola.Os agricultores não vendem seus produtos apenas para a cidade e sim para quem desejarem,
“ os fazendeiros e outros produtores não tem, no entanto, acidade como único mercado; eles tem, pelo contrário, pleno direito de oferecer seus produtos a quem desejarem. Neste ponto, como em outros da experiência, veremos que não se trata de restringir os direitos dos indivíduos, mas que, pelo contrário, seu campo de iniciativa é ampliado. Este princípio de liberdade é verdadeiro também para os manufatores e outros fabricantes que se estabeleceram na cidade.” (CHOAY, 1979, pág. 224)
até mesmo as empresas de energia, água, telefone, etc não procuram estabelecer monopólio absoluto, autorizando qualquer empresa privada de se encarregar dos serviços, para toda a cidade ou apenas parte dela.

Cidade Industrial de Tony Garnier

O plano da cidade industrial feita por Tony Garnier foi terminado em 1901, antes da Carta de Atenas, que foi o primeiro manifesto do urbanismo progressista, criado pelos membros da CIAM ( Congresso Internacional de Arquitetura Moderna) colocaram o urbanismo como primeiro plano de preocupações. No projeto da cidade há uma separação de funções: trabalho, habitação, lazer e saúde.
Vista aérea da cidade industrial

“Garnier havia dado um grande passo adiante ao tratar toda uma cidade sem se perder numa infinidade de detalhes, como muitos de seus contemporâneos. Seus projetos para casas, escolas, estações ferroviárias e hospitais também representaram um grande avanço. ( GIEDION, 2004, pág. 810)
“ Uma cidade industrial tem como princípios diretores a análise e a separação das funções urbanas, a exaltação dos espaços verdes que desempenham o papel de elementos isoladores, a utilização sistemática dos materiais novos, em particular do concreto armado.” (CHOAY, 1979, pág. 163)Em 1907, o prefeito de Lyon, nomeou Tony Garnier como arquiteto chefe da cidade.
O plano da cidade-industrial, era em um terreno que ao mesmo tempo era na zona montanhosa e uma planície, por ele atravessava um rio. Essa região estava localizada na parte sudoeste da França, o ponto de partida é a força que é a torrente, o leito dela está represado, uma usina distribui a energia da cidade. “ A razão determinandte do estabelicimento de uma tal cidade pode ser a presença próxima de matérias-primas, ou a existência de uma força natural suscetível de ser utilizada para o trabalho, ou ainda a comodidade dos meios de transporte.” (CHOAY, 1979, pág. 164)


Planta da cidade industrial

1- Cidade Antiga
2- Estação Central
3- Bairros residenciais
4- Centro
5- Escolas primárias
6- Escolas profissional
7- Hospital
8- Estação
9- Zona industrial
10- Estação industrial
11- Cemitério
12- Matadouro

A principal fábrica está localizada na planície, na confluência da torrente e do rio. Uma estrada de ferro passa entre a fabrica e a cidade, que está em um planalto, e ainda mais acima estão os estabelecimentos sanitários.“ Cada um desses elementos principais (fábrica, cidade e estabelecimentos para enfermos) está isolado de modo que se passa dispor de superfície livre em caso de necessidade, o que permitiu que continuássemos com o estudo ate um ponto de vista mais geral.” ( CHOAY, 1979, pág. 165)

Zona Industrial

Nas residências, os dormitórios deveriam ter pelo menos uma janela grande orientada para o sul, para entrada dos raios solares, os pátios, sem iluminação e ventilação natural, são proibidos, as paredes internas das casas e o chão são de materiais lisos e formam ângulos arredondados. Os terrenos para a construção das casas os bairros residenciais, são inicialmente dividido em 150 metros no sentido leste-oeste e de 30 metros no sentido norte-sul, dividindo em lotes de 15 por 15 metros, sempre com um lado voltado para a rua, podendo cada habitação ocupar quantos lotes forem necessários, contando que a superfície construída não ultrapasse a metade da superfície total do terreno, com o restante é feito um jardim publico que será utilizado pelos pedestres.
“ queremos dizer que cada construção deve deixar, na parte não construída de seu lote, uma passagem livre que vai da rua à construção situada atrás. Essa disposição permite que se atravesse a cidade em qualquer sentido, sem ser preciso passar pelas ruas; o solo da cidade, visto que em conjunto, é como um grande parque, sem nenhum muro divisório limitando os terrenos” (CHOAY, 1979, pág. 165)


Zona Residencial


Planta de uma residência


No centro da cidade há um amplo espaço para os estabelecimentos públicos, que formam três grupos, I, II e III, que são respectivamente, um de serviços administrativos e sala de assembléia, outro de coleções e um terceiro de estabelecimentos esportivos e espetáculos, os grupo II e III ficam em um parque limitado ao norte pela rua principal e o grupo I ao sul, limitado por um terraço ajardinado. O grupo I é formado por salas para ouvir o que ocorrem nas seções parlamentares, para conferências, reuniões para sindicatos e grupos diversos. Todas estas salas têm acesso através de um grande pórtico que forma uma galeria coberta, no centro da cidade, onde se pode circular dentro e serve de abrigo para dia de chuvas, ao sul do pórtico tem uma torre com um relógio, que é visível pela cidade toda, indicando o ponto central da cidade, para os setores administrativos, como cartório, tribunal de justiça, escritórios, laboratórios de análises, arquivos administrativos, serviços de organização do trabalho, hotéis, restaurantes, etc, são distribuídos em prédios e mais ao sul, na rua principal ficam o correio, telégrafos e telefones. O grupo II corresponde às coleções históricas: arqueológica, artísticas, industrial o comercial. O grupo III possui a sala de espetáculo, apresentação ao ar livre, ginásios, casa de banhos, quadras, pistas.
As escolas primárias ficam espalhadas pelos bairros, na extremidade nordeste ficam as escolas secundarias, com cursos de administração e comercio, para jovens de 14 a 20 anos, possuem também as escolas profissionais artísticas, com arquitetura, pintura, roupa, ferro fundido etc e as profissionais industriais, com cursos de industria metalúrgica e preparação de seda.



Escola profissional

Os estabelecimentos sanitários, como hospital, setor helioterápico, setor de doenças contagiosas, inválidos, ficam situados na montanha, ao norte, protegidos dos ventos frios.O bairro para o estação é reservada para habitações comunitárias como hotéis, grandes lojas, na praça em frente tem um mercado ao ar livre. Ela fica no cruzamento de grandes avenidas que vem da cidade com as ruas que levam à cidade velha, a fabrica fica à oeste e o comercio ao leste. Conta com serviço público ao nível da rua, e as linhas de trem ficam no subsolo, também possua uma grande torre com relógio. A estrada de ferro de longo percurso deve ser completamente reta, para os trem poderem atingir altas velocidades.
A administração cuida dos serviços de esgoto, lixo, água, fornecimento de energia, matadouros, serviços de fabricação de farinha e pão, armazéns de produtos farmacêuticos e lácteos.


Estação Central da cidade industrial


A Fábrica principal é uma metalúrgica, possui minas localizadas ao s arredores que fornecem a matéria prima, a força é fornecida pela torrente, a fabrica produz canos de ferro, chapa de ferro, rodas, montagem de vigamentos metálicos, fabrica o material para estrada de ferro, automóveis e aviões. As grandes avenidas arborizadas passam pelas diferentes regiões da fabrica. Sendo que cada região é disposta de tal forma que pode crescer independentemente e sem atrapalhar as outras divisões.
“ A proposta de Garnier previa claramente a separação das diferentes funções da cidade: trabalho, habitação, tráfego e recreação. Garnier alocava cada uma dessas funções num espaço próprio, de modo que uma futura expansão de qualquer uma delas não implicasse a alteração das outras. Seus longos blocos residenciais, com suas áreas verdes, eram planejados de modo a formar unidades de vizinhança, com suas próprias escolas e todos os equipamentos necessários. Os projetos para cada edifício, que compreendem todos os detalhes construtivos e estudos para disposição de moveis, com freqüência antecipam futuros desenvolvimentos de maneira surpreendente. O principal material de Garnier, o concreto armado, era empregado para cegar a novas soluções para suas escolas, estações ferroviárias, sanatórios e residências.” (GIEDION, 2004, pág. 816)Atribui á cidade uma importância média de cerca de 35000 habitantes,
“(...)a dimensão do assentamento é fixado em 35.000 habitantes, mas Garnier, ao contrário de Howard, não insiste sobre o número de seu encerrada-tipo cidade, e considera possível a sua gradual e planejada acreção.” (SICA, 1982, pág. 58)Parte do projeto foi posteriormente realizado em Lyon, onde construiu hospitais, estábulos, estádios e um bairro residencial.

Principais Diferenças entre a Cidade-Jardim e a Cidade Industrial

As diferenças, já se iniciam, por uma se tratar de uma linha de urbanismo progressista, como a Cidade-Industrial de Garnier, e a outra do urbanismo culturista, como a Cidade-Jardim, de Ebenezer Howard. A questão da população das cidades, há uma diferença, pois de acordo com a Cidade-Jardim de Ebenezer Howard é estipulado um número de habitantes de 30 mil na cidade e 2 mil no campo, ao ultrapassar esse limite, terão que ser criadas cidades ao redor de uma principal, criando uma interligação entre elas, através de vias de transporte rápido.
“ ... mediante o estabelecimento de uma outra cidade, sendo que, por razoes administrativas, haveria duas cidades; mas os habitantes de uma poderiam chegar à outra em poucos minutos, pois haveria um meio rápido de transporte e assim a população das duas cidades na verdade representariam uma única comunidade.” (CHOAY, 1979,pág. 226)
Enquanto a cidade industrial de Tony Garnier, ele não estipula valores limites, mas dá uma importância media de 35 mil habitantes,
“ ... o espaço cultural opõe-se ponto por ponto ao modelo progressista. Limites precisos são determinados para cidades.” (CHOAY, 1979, pág. 27)
O princípio para construção da cidade industrial é a divisão em zonas,
“No projeto da Cite Industrielle há uma clara separação entre as varias funções da cidade: trabalho, habitação, lazer e transporte. A industria é isolada da cidade propriamente por um cinturão verde ...” ( GIEDION, 2004, pág. 813 )
A fábrica fica em uma planície afastada da cidade, na confluência entre um rio e a torrente, no centro ficam os estabelecimentos públicos ( serviços administrativos, salas de assembléia ao sul da rua principal e coleções, estabelecimentos desportivos e de espetáculo ao norte ) alguns dispostos em jardins arborizados, cortados por passeios com fontes, bancos etc, os estabelecimentos sanitários ( hospitais, setor de helioterapia, setor de doenças contagiosas e setor dos inválidos) ficam situados na montanha, ao norte da cidade para serem protegidos dos ventos, as escolas ficam espalhadas por toda a cidade.
Enquanto isso na cidade-jardim possui no centro um jardim onde em voltam ficam os edifícios públicos, a indústria na periferia, no anel exterior da cidade estão localizados as lojas, manufaturas, mercados etc facilitando o transporte de mercadorias devido a proximidade com a ferrovia, tentam aproximar as atividades, evitando o zoneamento monofuncional.
O modelo progressista possui a concepção do indivíduo como indivíduo-tipo, assim como descreve Choay a respeito do que defendiam os progressistas:
“ (...)Quando fundam suas criticas da grande cidade industrial no escândalo do indivíduo alienado, e quando se propõem como objetivo um homem consumado, isso se dá em nome de uma concepção di indivíduo humano como tipo, independente de todas as contingências e diferenças de lugares e tempo, e suscetível de ser definido em necessidades-tipos cientificamente dedutíveis. Um certo racionalismo, a ciência, a técnica devem possibilitar resolver problemas colocados pela relação dos homens como meio e entre si. Esse pensamento otimista é orientado para o futuro, dominado pela idéia de progresso.” ( CHOAY, 1979, pág. 8)
Opondo-se a esse pensamento, o modelo culturalista defende que o ser humano é um individuo único mas grupal, tendo como ponto de partido o agrupamento humano e o conjunto da cidade.
“ Seu ponto de partida crítico não é mais a situação do indivíduo, mas a do agrupamento humano, da cidade. Dentro desta, o individuo não é uma unidade intermutável como no modelo progressista; por suas particularidades e sua originalidade própria, cada membro da comunidade constitui, pelo contrário, pelo contrário, um elemento insubstituível nela.” (CHOAY, 1979, pág. 11)
Outro aspecto que diferencia as duas cidades é a referencia à história e o rompimento. Na cidade industrial é demonstrada a ruptura total com o passado, buscando apenas o progresso, com soluções inovadoras e eficácias.
“Mas conforme a seu modernismo, rejeitam qualquer sentimentalismo com respeito ao legado estético do passado. Das cidades antigas, que devem ser replanejadas, só mantêm o alinhamento, praticamente esse urbanismo de ponta de faca que também satisfaz as exigências do rendimento.” ( CHOAY, 1979, pág. 23)
No projeto da cidade-jardim, Howard não aceita o presente e tenta negar o progresso, procurando voltar ao passando, imitando formas dos antigos e espaços.
“ Ele recorre à análise das cidades do passado (antiguidade ao século XV): é ali que, incansavelmente, estuda o traçado das vias de circulação, a disposição e as medidas das praças em sua relação com ruas que têm acesso a elas, com os edifícios que as delimitam, com os monumentos que as enfeitam.” ( CHOAY, 1979, pág. 27)
Essas são as principais diferenças referentes à cidade industrial de Tony Garnier e a cidade-jardim de Ebenezer Howard, porém as duas surgiram com o mesmo propósito, de buscar melhorias no bem estar das pessoas que moravam na cidade, diante de tantas mudanças que estavam ocorrendo e pelo caos que as encontrava
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Bibliografia

GIEDION, Sigfried. Espaço, tempo e arquitetura. O desenvolvimento de uma nova tradição. São Paulo, Martins Fontes, 1ª edição , 2004

SICA, Paolo: História del Urbanismo - el siglo XX, Instituto de Estudios de Administración Local, Madrid, 1982.

HALL, Peter. Cidades do Amanhã. Uma história intelectual do planejamento e do projeto urbanos no século XX. São Paulo, Editora Perspectiva, 1ª edição , 1995

CHOAY, Françoise. O Urbanismo.Editora Perspectiva, São Paulo, 1979


GARNIER, T. Une Cité industrielle: étude pour la construction des villes. Paris : Philippe Sers, 1988