“Poucos dos que lêem estas páginas sequer concebem o que são estes pestilentos viveiros humanos, onde dezenas de milhares de pessoas se amontoam em meia a horrores que nos trazem à mente que ouvimos sobre a travessia do Atlântico por um navio negreiro. Para chegarmos até ela é preciso entrar por pátios que exalam gases fétidos, vindo das possas de esgoto e dejetos espalhados por toda parte e que amiúde escorrem sobre os nossos pés: pátios, muitos deles, onde o sol jamais penetra, alguns sequer visitados por um sopro de ar fresco, e que raramente conhecem as virtudes de uma gota d’água purificante. É preciso subir por escadas apodrecidas, que ameaçam ceder a cada degrau e, em alguns casos, já ruíram de todo, com buracos que poe em risco os membros e a vida do incauto. Acha-se o caminho às apalpadelas, ao longo de passagens escuras e imundas, fervilhantes de vermes. E então, forem rechaçados pelo fedor intolerável, poderão os senhores penetrar nos pardieiros onde esses milhares de seres, que pertencem, como nós, a raça pelo qual Cristo morreu, vivem amontoados como reses.” (mears, 1183, p 4)
Cidade de Londres na revolução industrial
Diante desses problemas que as cidades estavam enfrentando, surgiu o urbanismo moderno, para solucionar esse caos urbano, diversos urbanistas projetaram seus planos de cidades ideais, eram divididos em três correntes: humanista, naturalista e progressista. Françoise Choay definem pela principais características: o modelo culturista, que entre os fundadores estão Camille Sitte, Ebenezer Howard e Raymond Unwin, os princípios ideológicos desse modelo é a totalidade prevalecendo sobre as partes e o conceito cultural de cidade sobre a noção de material de cidade, seu ponto de partida não é o Homem isolado mas sim o agrupamento humano, limites precisos são determinados pelas cidades, como por exemplo a cidade-jardim de Howard que estipula o número de trinta mil habitantes, a cidade é limitada por um cinturão verde para impedir coascelencia com outras aglomerações vizinhas, as ruas são órgãos fundamentais, o espaço deve ser diverso por isso, recusam a simetria, seguem a topografia, incidência do sol, vento dominante e conforto ao indivíduo
“ Ele recorre à análise das cidades do passado ( da antiguidade ao século XV): é ali que, incansavelmente, estuda o traço das vias de circulação, a disposições e as medidas das praças em relação aos monumentos que as enfeitam.” (CHOAY, 1979, pag 27).
A corrente progressista, tem como principais urbanistas Tony Garnier, Owen, Fourier, Richardson, Cabet, Proudhon, o interesse dos urbanistas deixaram de ser estruturas econômicas e sociais, são obcecados pela modernidade, propõe uma cidade funcional e geométrica, “[...] ordena a disposição dos elementos cúbicos ou paralelepipedais segundo as linhas retas que se cortam em ângulos retos: o ortogonismo é a regra de ouro que determina as relações dos edifícios entre si e com as vias de circulação.” (CHOAY, 1979, pág 23)
negando qualquer referência as cidades do passado e deixam de lado o interesse pelas estruturas econômicas e sociais e passam a preocupar com as técnicas e estética, “ A estética é um imperativo tão importante quanto a eficácia para esses urbanistas-arquitetos a quem a tradição européia deu, em alto grau, uma formação de artistas. Mas conforme, a seu modernismo, rejeitam qualquer sentimentalismo com respeito ao legado estético do passado.” (CHOAY, 1979, pag 23), propõem uma cidade dividida em zonas específicas com funções distintas Habitat, Trabalho (industrial, liberal e agrícola), Cultura e Lazer, não se submetem obrigatoriamente a características dos locais, história, cultura, morfologia do território, negando a topografia, na condição de atender as funções e ser eficaz, preocupação com a higiene e a saúde.
E finalmente modelo naturalista, tem como principal adepto o arquiteto Frank Lloyd Wright, é uma proposta anti-industrialista, negando o progresso e a tecnologia, a arquitetura está subordinada à natureza. “ Os princípios ideologicos sobre os quais ele funda Broadacre são os de um fiel discípulo de Emerson. A grande cidade industrial é acusada de alienar o individuo no artifício. Só o contato com a natureza pode desenvolver o homem a si mesmo e permitir um harmonioso desenvolvimento da pessoa como totalidade. F. L. Wright descreve essa relação original e fundamental com a terra em termos que, para o leitor europeu, evocam as páginas onde Spengler restitui o início da cultura ocidental.” (CHOAY, 1979, pag 30)